Ano Novo? Mesmo?

Eu sei que deveria terminar o relato da minha transformação. Mas hoje é 31 de dezembro e eu realmente me sinto impelida a falar sobre essa tradição de Ano Novo. 

Quando se vive tanto, a imagem de um ANO NOVO, de um recomeço, de uma nova possibilidade acaba soterrada pelas areias do tempo. Desculpem-me os que ainda carregam em si a esperança de que tudo vai mudar de hoje para amanhã. Mas amanhã é apenas mais um dia. 

Nada vai ficar diferente. O sol vai continuar se levantando de manhã, as estrelas vão continuar brilhando a noite, e a vida vai seguir, com a mesma inconstância de sempre. 

Já não comemoro o Ano Novo há algumas décadas. Não sei ao certo quanto tempo. Apenas abro uma garrafa de vinho, pego uma taça e me deixo ficar apreciando o aroma da bebida enquanto observo o horizonte pontilhado pelas luzes da cidade. 

Meu Réveillon não é uma festa de esperança e comemoração. É de contemplação, silêncio e solitude. Mas talvez este ano seja diferente. Gween chegou a noite passada junto com Antoine, Elisa, Perseu (de quem já não me lembro o nome real) e Cristovão. Isso significa nada de silêncio, nada de solitude e muito menos contemplação. Gween e Cristovão apreciam a boa música e eu duvido que Perseu me deixará quieta sem dançar.

 Falta-nos um músico, divertido e capaz de arrancar as notas que realmente fazem quase bater o coração das criaturas da noite. O que me diz, meu querido Alex? Contaremos com sua presença? Ainda tenho aquele Stradivarius que você tanto ama. E claro, seu violão sempre será tratado como parte da família entre os nossos.

 Faz tanto tempo que passamos uma virada de ano juntos. Acho que a última vez foi numa queima de fogos em Paris, no Champs Élysées. Naquela época ainda usava tradicionais vestidos de veludo e mangas bufantes.

 Honestamente, espero que venha meu amigo. Sabe bem que um de seus dons é marcar épocas de minha vida. Quem sabe este ano você não consegue me devolver com sua música algo de que sinto falta na condição humana: esperança?

~ por reallfangs em dezembro 31, 2009.

Uma resposta to “Ano Novo? Mesmo?”

  1. Foi bom tocar meu violão para você. E, desculpe por levar o Stradivarius comigo, acho que ele será mais útil ao meu lado.
    Sei que você não se importa. Ou se importa?
    (isso será um convite para eu voltar, com a desculpa de “devolvê-lo”?)
    Sangue sabor champanhe. Muito tempo mesmo, desde les Champs Élysées.
    O que está acontecendo de nossa memória, Biah? Está indo embora com o resto de nossa humanidade, talvez?
    (…)
    Será isso divertido?
    Sinto falta de tocar seus lábios.
    Com toda a profundidade que seus leitores não serão capazes de compreender.
    Au revoir, ma dame.

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